domingo, dezembro 9

119|1975

"...cada um é da cor do seu coração."

118|1975

A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas. Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.

Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'

domingo, dezembro 2

116|1975

li hoje...sobre o alfabeto

Quem não sabia desenhar inventou o alfabeto. As letras são desenhos errados, ou desenhos que se estão sempre a copiar. Com apenas vinte e tal desenhos diferentes, que são as letras, os escritores conseguem escrever milhões de livros. Qualquer desenhador que utilize sempre os mesmos vinte desenhos, ao fim de duas semanas torna-se aborrecido.

MSTavares

115|1975

li hoje...sobre o telefone

O telefone é uma invenção ofensiva para os surdos-mudos. A pintura é uma arte ofensiva para os cegos. A pressa é ofensiva para os desprovidos de pernas. A necessidade que os artistas têm de receber aplausos é ofensivo para os homens sem braços. Nas mãos de um surdo-mudo o telefone está sempre avariado.

GMTavares

114|1975

li hoje...sobre as catástrofes

Não há catástrofes discretas a não ser as que sucedem aos outros. Todo o pequeno precalço na nossa vida é uma tragédia indiscreta.

GMTavares